Apoiado numa enorme curiosidade e numa sólida formação
universitária, Fernando Guerreiro prossegue aqui, com o seu inconfundível
estilo ensaístico- poético, numa obra que começa a tomar
estranhas proporções.
Art Campbell é, como nos explica o autor, «um segundo momento de
'negativos'»(UNICEP, 1989) e dará lugar a um terceiro momento, denominado
«arte postal».
Trata-se de uma colectânea de pequenos textos publicados em diferentes datas
e locais editoriais, que percorrem alguns dos caminhos que tomou a produção
artística (música, pintura, literatura, fotografia, cinema, etc.),
desde Descartes à arte pós- nuclear.
Uma atenção especial é aqui dada à arte pop, na medida
em que esta contribuiu irredutivelmente para a banalização dos referentes
e índices de representatividade do real, encarando o nada como se fosse
alguma coisa, tirando algo desse nada e, depois, deitando-o fora de novo (Warhol).
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Mas o fundo do problema, para os modernos, parece repousar no apagamento da contradição
entre o sujeito e o objecto, que marca o fim da História», segundo
Hegel (Alexandre Kojève).
De facto, é a oposição sujeito/objecto, retomada e reflectida
em varias páginas de Art Campbell, por vezes conjunta e brilhantemente
com o tema da voz passiva da intransividade da estrutura profunda da linguagem,
que nos leva até à questão do saber se o mundo pós
- hegeliano se quer perpetuação do ser humano como animal ou como
verbo.
Mas, como já dizia Pascal, «Qui fait lánge, fait la bête»:
é talvez e também o que nos assinala, em todos os sentidos do termo,
o epíteto «arte bruta», com que Fernando Guerreiro termina
o texto de abertura deste seu último livro
Em: Jornal Expresso - 19 Out. 1994
Autor: Fernando
Gerreiro, "Art Campbell", Edições Mortas
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